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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Quando o exercício vira risco para a saúde

A participação em esportes de ultra-resistência como a maratona, o triátlon e Ironman tem aumentado nos últimos anos de maneira significativa. Muitos dos atletas participantes nestes tipos de competições aderem a regimes e protocolos intensos de treinamento visando obter uma preparação adequada para o dia da prova. Alguns até chegam a viajar para o outro lado do mundo, com o objetivo de competir em diferentes eventos. E para muitos destes atletas, a preparação árdua e dedicada se torna uma prioridade às vezes, até em detrimento da vida familiar que pode ser sacrificada por completo. Portanto, conjugar o trabalho, a vida em família e um horário de treinamento religioso pode se tornar um desafio monumental, porém a grande maioria acredita estar acumulando importantes benefícios em prol da saúde na participação desses tipos de modalidades esportivas.

Muitas vezes, a crença popular é que toda atividade física é boa para a saúde e para o bem-estar geral do indivíduo, e que na verdade, a carga envolvida, a qual uma pessoa se sujeita não tem importância, já que a pratica do exercício só pode trazer benefícios. Porém, essa é uma maneira muito simplista de encarar tal assunto. E talvez, seja hora de examinarmos a prática dos esportes e das atividades físicas, que trazem tantas alegrias e gratificações às nossas vidas, de uma forma mais aprofundada e metódica. Sem contar que os benefícios psicológicos e fisiológicos de uma programação sensata e regular diária são primordiais. Além disso, vários estudos demonstram que a movimentação física moderada pode conferir diversos benefícios à saúde, como o fortalecimento do sistema imunológico, das funções do cérebro e até mesmo a redução dos riscos de doenças cardiovasculares e certos tipos de cânceres.

Mas e se a participação nestes eventos altamente prolongados de ultra-resistência não corresponde com os benefícios em prol da saúde que muitos almejam? Além disso, e se o treinamento rigoroso (muitas vezes até mesmo prescrito por um indivíduo sem formação específica da disciplina de fisiologia do exercício e de educação física) estiver lentamente comprometendo a função imunológica do organismo de forma acentuada?

É bem possível que em algum momento a atividade física praticada de forma extrema, passe a se tornar um risco para a saúde. Esses atletas profissionais e amadores, muitas vezes desconhecem o mal causado aos seus organismos. E com muita frequência, milhares de pessoas em todo o mundo, com o apoio de um grupo de “treinadores” e outros indivíduos que se auto-proclamam “especialistas”, estão se sujeitando às metodologias de treinamento com cargas esdrúxulas, que podem sistematicamente estar minando as suas defesas imunitárias.

O nosso sistema imunológico é constantemente desafiado por uma série de micróbios patogênicos. Diversos fatores como, por exemplo, a nossa predisposição genética, o meio ambiente, os níveis de estresse em nossas vidas, a nossa alimentação, a falta de sono, o envelhecimento e as cargas de atividades físicas, as quais nos submetemos, influenciam a robustez e a integridade desse sistema. Quadros clínicos patológicos e hábitos nocivos como a dependência química, tal como o uso de drogas, do tabaco e das bebidas, também contribuem com a supressão da resistência imunológica.

Também é muito comum atletas sucumbirem às infecções de trato respiratório superior como resfriados, dores de garganta, e sinusites nos dias e semanas após uma prova importante. Tais ocorrências estão mais do que relatadas dentro da literatura científica. Na verdade, estudos demonstram que o risco de sofrer infecções de trato respiratório superior aumentam de 2 a 6 vezes nas semanas após a participação em uma maratona de 42 km, ou em ultra-maratonas de 90. Estados gripais também aumentam durante as fases de treinamentos excessivos.

Em entrevista pelo telefone perguntei ao Dr. Michael Gleeson, um renomado investigador da Loughborough University e especialista no assunto, em que momento, os exercícios prolongados passam a tornar-se nocivos. Ele afirmou que diversos componentes do sistema imunológico começam a ser suprimidos após uma corrida intensa e contínua com duração de mais de 90 minutos. No entanto, vale a pena lembrar, que o curso de uma maratona para muitos acarreta mais de cinco horas de exercício contínuo e um Ironman pode chegar a ter uma duração de até 17 horas.

A supressão imunológica que ocorre após o exercício prolongado está relacionada à elevação dos níveis dos hormônios de estresse, adrenalina e cortisol provenientes das atividades físicas. Tais níveis elevados desses hormônios deprimem importantes células sanguíneas, neste caso os glóbulos brancos (neutrófilos e linfócitos), que desempenham um papel vital na integridade do sistema imunológico. Os neutrófilos no corpo humano são análogos e comparáveis ao icônico Pac-Man (protagonista do famoso videogame dos anos 80, que obstinadamente devorava os pequenos detritos, e que poderiam equivaler-se aos microrganismos nocivos em nosso organismo). Desta maneira, os níveis mais baixos dessas células nos tornam suscetíveis às infecções. E as atividades físicas praticadas de forma demasiada, ou prolongadas, também afetam negativamente outros mecanismos mais complexos da defesa imunitária.

O comprometimento da função imunológica que ocorre após uma corrida de ultra-resistência é, na grande maioria das pessoas, reversível. Porém, o problema enfrentado por esses entusiastas obstinados não é apenas a agressão fisiológica, que eles encaram durante uma competição como uma maratona ou Ironman, mas também o enfraquecimento constante de seus sistemas imunológicos, que ocorre no dia a dia de suas vidas em consequência das metodologias excessivas de treinamentos que antecedem o dia da competição. Desta forma, agridem as suas integridades físicas de forma constante, pois as rotinas de treinamento e as provas múltiplas são incessantes.

O que ocorre é curioso. Imaginemos que o sistema imunológico esteja tomando uma série de socos várias vezes por semana durante os dias de treinamento e, finalmente, tome um nocaute no dia da prova ou da competição. Seria interessante averiguar qual é o resultado do sistema imunológico a longo prazo de uma pessoa, que esteja constantemente participando de diversas maratonas ao ano e, além disso, se submetendo no dia a dia a programas de treinamentos excessivos e sem base nos conhecimentos da área de fisiologia do exercício.

Vale a pena fazer uma observação sobre a carga de exercício que é considerada apropriada para estimular adaptações imunológicas benéficas. Quando perguntei ao Dr. Gleeson sobre a quantidade de exercício ideal para se alcançar este objetivo, ele afirmou que “a atividade física moderada de 30 a 45 minutos composta por uma caminhada rápida, de 5 dias por semana, é recomendável para promover a saúde, o bem-estar geral e as adaptações fisiológicas que de fato fortalecem o sistema imunológico.” Com base em sua afirmação, fica claro que a medida ideal de atividade física para o bem viver está bem longe de ser a de um treinamento para o dia da prova, de uma maratona ou de um Ironman.

Por outro lado, não queremos e não devemos dissuadir as pessoas de usufruirem dos mais que reconhecidos benefícios das atividades físicas diárias, tanto que enfatizamos os benefícios psicológicos e fisiológicos das programações sensatas e regulares. No entanto, correr durante quatro ou mais horas, como muitos fazem numa maratona, ou nadar, pedalar e correr durante dez horas ou mais, como fazem participantes de um Ironman, fica bem longe de ser consideradas cargas de exercícios que almejam fortalecer o sistema imunológico de quem quer que seja.

Em caso de insistência na participação dessas competições de ultra resistência, recomendamos que os partipantes dentro dessas modalidades procurem sempre a assistência de um fisiologista ou outro profissional da área, para uma opinião individualizada de forma a minimizarem riscos desnecessários à saúde e que decorram de tais modalidades. Eventualmente, outra saída é que estas pessoas busquem formas mais sensatas de praticar atividades físicas.

Fonte: Estadão

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O que escolher, pilates ou musculação?

Tenho visto com uma certa frequência atletas de corrida comentarem sobre o que treinar para complementar seus treinos. De forma geral, alguns tem suas próprias ideias e formas de treinamento. Muitas pessoas não tem paciência de praticar a musculação e acharam no pilates uma alternativa complementar.

A cada ano que se inicia, promessas das mais variadas surgem, inclusive aquelas relacionadas à atividade física. Não é muito difícil ouvirmos “este ano eu começo a fazer academia” e, diante de tantas opções oferecidas para todos os gostos, é comum as pessoas terem dúvidas em qual escolher. Uma das frequentes interrogações é a respeito do que diferencia e no que se assemelha a musculação e o Pilates.

Apesar de terem uma metodologia e linha de trabalho diferentes, ambos podem promover a melhoria da postura e do equilíbrio muscular. Ainda não existe uma condição dizendo que quem faz Pilates não pode fazer musculação e vice-versa. Pelo contrário, um pode complementar o trabalho realizado pelo outro na medida em que acionam camadas musculares diferentes do nosso corpo.

Na musculação, o foco são os músculos mais superficiais, chamados de mobilizadores, responsáveis pelos movimentos de grande amplitude, como o agachamento e a flexão de braços. Dentre os objetivos do treino estão, por exemplo, o aumento de força e resistência muscular. Inclusive, por ter como característica este trabalho superficial, os resultados estéticos tendem a aparecer mais rápido para os adeptos.

O método desenvolvido por Joseph Pilates ativa a musculatura mais profunda, como o transverso do abdome, multifídios e todos os músculos que envolvem as articulações (estabilizadores), depois age na musculatura mais externa. Esses músculos mais internos são fundamentais para a constituição de uma estrutura forte e livre de lesões.

A ênfase dada ao abdome e aos músculos lombares torna a técnica excelente para quem deseja uma barriga consistente e se ver longe de dores nas costas. O aluno também consegue definir a musculatura sem aumentar o seu volume, ou seja, o foco do pilates não é hipertrofia. Diferentemente da musculação, o resultado do pilates não está estritamente relacionado ao número de repetições. Pelo contrário, é priorizada a qualidade do movimento.

Naturalmente, ambas as práticas trazem benefícios ao corpo e geram bem-estar, além de se serem indicadas para auxiliar na performance de esportes como corrida, ciclismo e natação. Agora, se você está interessado em saber se o Pilates é melhor ou não que a musculação, saiba que é impossível fazer qualquer afirmação deste gênero, uma vez que não existe um exercício melhor do que o outro. Há, sim, aquele que é mais indicado para o seu perfil e que irá auxiliá-lo a atingir os objetivos desejados.

terça-feira, 5 de junho de 2012

As mulheres estão correndo cada vez mais!

Segundo dados oficiais do departamento de Corridas de Rua da FPA (Federação Paulista de Atletismo) houve um sensível crescimento (3,83%) da prática esportiva em 2011 em relação a 2010. Foram 298 eventos oficiais em 2011 contra 287 no ano anterior. O número de participantes, dentro da mesma comparação de períodos, cresceu 11,5%: 464.057 em 2011, contra 416.210 em 2010.

Um dado interessante, e que deve ser observado com muita atenção pelos organizadores de provas, treinadores de corrida, pelas revistas, sites e marcas esportivas, é o aumento significativo do número de mulheres concluintes em provas.

Dos mais de 464 mil atletas concorrentes em 2011, 30 % (139.427) foi constituído de mulheres, sendo que em 2007 elas somavam 24%. De 2007 para 2011 (5 anos) o número de mulheres concluintes em provas em São Paulo cresceu 101,86%. Em 2011 foram 139.427, contra 69.070 em 2007. Só de 2010 para 2011, a participação feminina cresceu 20,7%, enquanto a masculina teve crescimento de pouco mais de 8%.

É cada vez mais notável a presença feminina correndo pelos parques, ruas e praças de São Paulo e do mundo. Nos EUA esta presença é ainda mais marcante, sobretudo nas distâncias de cinco quilômetros e meia maratona (21.097 metros), onde diferente do que ainda acontece no Brasil, elas formam a grande maioria. Fizemos questão de pesquisar a fundo o número de concluintes nas 20 principais meia maratonas nos EUA e, de 332.220 concluintes na distância em 2010, elas somaram 201.917, o que equivale a 60,8% dos concluintes.

No Brasil, pesquisando as 20 maiores provas, chegamos a 52.656 concluintes, sendo as mulheres 11.225, o que equivale a 21,3%. A prova na distância com maior quantidade de mulheres no país foi a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro com 2.385 concluintes (22% do total de inscritos) e a prova com maior equilíbrio percentual foi a Meia Maratona Caixa do Rio de Janeiro com 33% de concluintes mulheres.

Já nos EUA, só a Rock' N Roll Las Vegas Half Marathon teve simplesmente 21.051 mulheres concluintes e a Rock ‘n’ Roll Savannah Half Marathon quase 70% de concluintes mulheres!

Há vários motivos que levam as mulheres a correr. Saúde, estética, diminuição do stress e principalmente a possibilidade que a corrida oferece de ampliar relacionamentos. Claro que há muitas mulheres competitivas, que correm para melhorar a performance, superar seus limites etc., mas fica claro que, para a maioria, correr mais longe e mais rápido não é algo tão obsessivo quanto é para os homens.

As mulheres querem mais é ter um momento de descontração. Querem poder bater papo com as amigas ao mesmo passo que cuidam do corpo. Compartilham problemas no trabalho, trocam experiências de relacionamentos, dicas de beleza, estética, viagens e etc. Descobriram os grandes benefícios físicos e sociais que a corrida as proporciona, e como são fortíssimas formadoras de opinião e disseminadoras do que as faz sentirem-se melhor, acabam convertendo cada vez mais amigas ao mundo da corrida e fazendo com que estes números se multipliquem ainda mais.

Todos que trabalham com corrida devem ter cada vez mais atenção na participação feminina. Aos organizadores de prova, um kit que não necessita ser tão diferenciado, mas que se puder ter camiseta de cor diferente da masculina já agradará bastante. Várias opções de tamanho e cortes mais femininos das camisetas, diria que é algo praticamente obrigatório, assim como banheiros em maior quantidade, limpos, com as pessoas da limpeza cuidando direto e, de preferência, em área um pouco distante da dos banheiros masculinos.

Às marcas esportivas, vale investir muito mais na comunicação, sempre observando a linguagem delas. Em cores mais femininas de tênis, cortes de camisetas e shorts, lembrando que não são todas as corredoras que tem corpo de modelo. Que muitas preferem vestir algo que as permita correr na moda, bonitas, porém com mais segurança, conforto e discrição.

Aos treinadores, diria que a cada dia aprendemos e aprenderemos mais com elas, mas que mais importante do que entender bastante de fisiologia do exercício e treinamento desportivo é sempre saber ouvi-las.